sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Genialidade caótica


Há muito não me empolgava com um CD como o “Chaos and Creation in the Backyard” do bom e velho Paul McCartney. As faixas Follow me, Fine Line e Promise to You Girl estão fadadas a virarem clássicos. McCartney, em seu melhor trabalho desde Band on the Run (1973) – Flaming Pie também é bom, mas não chega a empolgar - e sem ligar para o que falam os críticos, já que tem lugar garantido no anais das artes, parece ter se livrado do fantasma da comparação com os Beatles e fez um disquinho que lembra muito as canções de Let it Be, Rubber Soul e Revolver, mas com um tom pessoal marcante do velho “Macca. O melhor: todos os instrumentos são tocados exclusivamente pelo Sir Paul McCartney. Gênio, simplesmente. Se existisse (pode ser que exista) um dicionário ilustrado com o verbete “good music”, a capa de “Chaos and Creation...” estaria estampada na ilustração.Recomendado para aqueles que reverenciam boa música.Recomendo um Valpolicella Bolla enquanto ouve a “bolachinha”.

Conto. Parte III

Ela chegou e foi logo procurando por algum sinal de sua vítima. Encontrou-o encostado no bar, cantarolando “Gallows Polle”, sexta faixa do Led Zeppelin III.- Oi, disse ela com sorriso e empolgação que causou espanto até nela mesma. Não sabia que você freqüentava o Gate’s dia de quarta - continuou ela, mesmo sabendo que qualquer pessoa que o tenha conhecido há pouco mais de uma noite sabe que ele freqüenta o inferninho quase toda a semana.- É...frequento, respondeu ele sem muito entusiasmo ao passo que continuou a cantarolar: “I couldn't get no silver, I couldn't get no gold, You know that we're too damn poor to keep you from the Gallows Pole.”Com tom sem graça e quase desejando não ter pisado os pés naquele lugar, ela disse:- Vou ver se encontro minhas amigas. A gente se vê.- Tá - respondeu seco, como de costume.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Dadinho, um caralho! Meu nome é Zé Pequeno.

Dizem que sou uma pessoa ranzinza. Já ouvi isso algumas milhares de vezes. Sou mesmo. Meu apelido, quando pequeno, era "Zangado". Sempre me perguntam quanto é o quilo do bico. O problema é que tenho pouca paciência para pessoas idiotas, não gosto de intimidade com qualquer pessoa, não suporto ignorância (no sentido de oligofrenia, mesmo). Odeio quando uma pessoa subestima minha inteligência (que pode não se grande, mas é minha e ninguém tasca!) e tenta me passar para trás. Não agüento quando as pessoas são injustas ou quando maltratam algum ente querido meu. Falo palavrão, digo o que penso e não consigo sorrir quando algo me incomoda. Não forço sorrisos. Posso sorrir, mas somente se me deres um motivo para tanto. Se me perguntar algo, esteja pronto(a) para ouvir a verdade. "Quem puxa, quer ver o tamanho", como diz minha sábia empregada. No entanto, apesar de no dia-a-dia o Mr. Hide em mim ser dominante, tenho meus momentos de Dr. Jekyll. "Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê". Muita gente não entende, mas prefiro assim.

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Conto. Parte II.

Ele estava vestido com sua camiseta preta favorita e seu jeans surrado. Ela, durante muito tempo, conteve a sua vontade de agarrá-lo e levá-lo para a cama por causa do namorado. Agora, livre, ela passou a cortejá-lo e até a persegui-lo pela noite de Brasília. Tinham amigos em comum e ela não teve muito trabalho em descobrir que ele estaria no Gate’s naquela quarta-feira. Sabe que ele gosta do ambiente escuro e quase melancólico que o lugar possui. Muitos amigos dele freqüentam-o, principalmente na quarta-feira, quando o DJ só toca discos de vinil na vitrola e o público que freqüenta o lugar é mais interessante do que o da maioria dos bares da Capital Federal. A música é boa, o ambiente é bom e os amigos estão por perto. Ele não desejava muita coisa. Apenas a companhia dos frades e uma cerveja gelada.
Conversava animadamente com Batista, garçom do lugar há muito tempo. Mas do que podia lembrar. Batista tinha 56 anos e era casado com uma moça 34 anos mais nova.
-Chega de mulher bonita! Arrumei uma moça bem feia, porém novinha, sabe cozinhar e não me enche muito a paciência, disse o garçom com a firmeza que a experiência de dois casamentos anteriores construiu. - Quantos anos ela tem?
- 22.
- 22? Não é muito nova?
- Tem que ser. Ela já é feia. Imagine se fosse velha? Mulher bonita dá trabalho. Todo mundo mexe e ela fica achando que pode sempre mais do que já tem. É muito arriscado. Tem que ser feia! Ninguém mexe e ela agradece todo dia a Deus por ter encontrado alguém corajoso o suficiente para ter aceitado ela. A gente fica por cima.
- Como assim?
- Aprendi que as relações entre casados, namorados ou amantes são, na verdade, lutas veladas constantes. Ninguém quer parecer fraco diante do outro. Queremos ter sempre a impressão de que a pessoa nos idealiza, que acha que nos perder vai ser pior do que estar com a gente. Por isso nos mascaramos as nossas características mais sombrias quando acabamos de conhecer alguém. Somos outras pessoas, máscaras que fatalmente caem e revelam pessoa diferente daquela que apresentamos no início. E mulher bonita vai ter sempre muitas opções para comparar. É muito arriscado.
Ele acenou com a cabeça concordando. Na verdade não concordava, mas a última coisa que ele queria era discutir com alguém sobre relacionamentos. Aquela conversa já o distraíra demais. Queria aprecia a música. De repente, um verso da canção "Deixe a Menina" de Chico Buarque surgiu na sua mente agitada por três long necks: "Atrás de um homem triste há sempre uma mulher feliz. Atrás dessa mulher mil homens sempre tão gentis. Por isso, para o seu bem, ou tira ela da cabeça ou mereça a moça que você tem."Gostava de Chico. Considerava-o um gênio. Teve que concordar com o amigo garçom.

Se eu fosse um personagem de South Park


sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Coisas que odeio. Parte III

Odeio gente que conta mais do que o suficiente para te convencer a assistir a um filme. Quando recomendar um filme, pelo menos para mim, deixe que a pessoa tire suas próprias conclusões quando for vê-lo na telona ou telinha. O foda é quando a pessoa diz:
-Só vou te contar essa parte.
-Não conte. Você já me convenceu. Eu vou assitir à porra do filme
-Mas é rapidinho. Só para você entender.
-Você não entendeu? Não deve ser tão complexo.
-Só essa parte que não tem nada a ver.
-Você acha que se não tivesse nada a ver o diretor colocaria a cena na versão final do filme?
-Mas essa parte é massa.
-Sim, eu acredito. Vou ver a porra do filme.
-Vou contar! Na parte que o cara fala...
-Puta que pariu!
Tem gente que é foda.
Pior é quando você é o único do grupo que ainda não assistiu à película comentada. Aí não tem jeito, amigo. Ou você sai o mais rápido possível da mesa ou vai ter a sensação que já viu o filme quando for realmente vê-lo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

Godldfish Memory.


Assisti, já há algum tempo, a um filme chamado "Goldfish Memory", que no Brasil, para variar, recebeu o título imbecil de "Todas as cores do amor". O filme não tem nada a ver com cores. Mais uma vez brincam com nossa inteligência. Trata-se de uma comédia irlandesa na qual a vida dos personagens misturam-se em trama inteligente. Tudo acontece em torno da busca das pessoas pelo amor de suas vidas, as implicações das decisões precipitadas que, às vezes, tomamos e o arrependimento maléfico que não nos deixa livrar-nos da culpa da burrada feita. Parece lugar-comum, concordo, mas o assunto é tratado com esperteza e você nem percebe o pano de fundo meio clichê.
A goldfish memory a que se refere o título são os três segundos que dura a memória de um peixinho dourado (não sei se esta informação tem em sua base qualquer fundamento científico). São os três segundo que dura a memória de um amor ou desilusão passada quando "love comes to town". Não conto mais porque tenho "simancol" suficiente para não estragar a diversão dos outros (odeio gente que se empolga a conta a porra do filme inteiro. Ops, empolguei no "porra", mas tudo bem).
Two thumbs up!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

Conto. Parte I.

O rádio-relógio começa a tocar "Vampiro" de Jorge Mautner. Caetano empresta sua voz, com maestria, à letra de seu companheiro de composição. - "Eu uso óculos escuros para minhas lágrimas esconder..., cantarola ele enquanto ela se enrosca em seu corpo nu e imberbe.- Que horas são? Pergunta ela tentando beijar-lhe a boca.- São oito horas. Está na hora de levantar.- Não...quero fazer amor com você mais uma vez.- Agora não, recusa ele enquanto levanta da cama em direção ao banheiro. Ouça este trecho da música, conclui.
"Por isso é que eu sou um vampiro e com meu cavalo negro eu aprontoE vou sugando o sangue dos meninos e das meninas que eu encontroPor isso é bom não se aproximar muito perto dos meus olhosSenão eu te dou uma mordida que deixa na sua carne aquela ferida"
Ela ficou impassível e calada durante todo resto da música. Sentou na ponta da cama e lembrou da noite anterior.

Conto.

Começo, hoje, a publicar um conto escrito por mim. Aviso que a periodicidade é indefinida. Pode ser semanal, mensal ou mesmo anual. Não adianta tentar identificar-se com um dos personagens. Todos são inspirados nas pessoas com as quais convivo ou convivi, mas procurei misturar as características de várias pessoas em um só personagem, ou apenas um pequeno traço. Cada personagem é uma espécie de Frakenstein, com características múltiplas. Eu também estou presente no conto, é claro, mas como dito anteriormente, não sou nenhum personagem específico, nem mesmo o principal. Apesar de, como diz Hornby, ser o personagem principal do meu Fábio show e as outras pessoas personagens que vão e vêm (apesar de existirem participações especiais), neste caso não me coloquei no centro da história. Talvez eu nunca acabe o que estarei começando agora, mas vale a pena tentar. Pelo menos serve de terapia.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Bom filme. Também com um título desse...



Desculpem o momento preciso-afirmar-me-pelo-menos-para-mim-mesmo.