domingo, 29 de outubro de 2006

Coisas que só acontecem comigo...Parte VI

Aqui em Lagos, diversão é algo não muito constante. Ontem, a Ministra convidou-me, juntamente com o Conselheiro, a J. e o H. para jantarmos na Residência Oficial (que fica no mesmo terreno do 'compound'). A conversa estava animada com os membros da mesa discorrendo sobre as intrépidas aventuras mundo a fora a serviço do MRE. A comida preparada pelo cozinheiro J.P. estava soberba. Tomávamos um reserva italiano cujo nome nao me lembro. Foi aí que 'Fabio, o Joselito sem noção' entrou em cena: como quase toda pessoa de idade avançada, a Ministra afastou a garrafa do vinho tinto para poder ler com mais precisão as minúsculas letras do rótulo. Não percebi e pensei que estava a me oferecer mais da bebida be Baco. Soltei um 'muito obrigado Ministra, o vinho é maravilhoso" e coloquei a taça para que me servisse mais um pouco. Todos na mesa perceberam a gafe e riram. A Ministra, com cara de poucos amigos, serviu-me a última dose (vinho é servido em taças, eu sei, mas só tinha o equivalente a uma dose de whisky) do Reserva. Gafe ou não, tomei o vinho com gosto!

sábado, 28 de outubro de 2006

Welcome to Nigeria.

As referências não eram muito boas e eu estava temendo o pior ao chegar em Lagos: retenção de Passaporte Diplomático, pedido de propinas etc. Quando vi a Ministra ao longe, antes da Alfândega, tranquilizei-me. Mas comigo nada dá muito certo, minha mala não chegou. Ficou em Paris e só veio para Lagos 24h depois. Nada de tão grave. Ganhei uma necesserie da Air France com um detergente (acho que pra lavar a cueca), desodorante (vagabundo), uma camisa branca (igualmente vagabunda. Daquelas que dá pra ver até o bico do peito quando a veste), uma escova de dentes (daquelas que esfolam a gengiva com a mais singela escovada). Só esqueceram o sabonete. Franceses... Lagos é uma cidade que parece New Orleans...depois do Katrina!! É um favelão com 15 milhões de habitantes. As pessoas simplesmente desconsideram qualquer veículo automotor como ameaça à vida e guardas de trânsito que andam com pedaços de madeira gritando e tentando controlar o caos. Acho que, aqui, ganha quem buzina mais! Nunca vi nada igual. Em nada lembra a África típica daquilo que muitos imaginam. É uma cidade grande, mas sem infraestrura alguma e miséria por toda a parte. Não vi nada que me deixasse muito abismado, mas acho que não perco por esperar. Ainda vou passar muitos dias por aqui. Confesso que, até agora, estou até gostando de ter vindo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Amsterdam nov. 19 - 23th


Guess who's gonna be around then?

sábado, 14 de outubro de 2006

Breakfast on Pluto for dinner


"Um dos melhores filmes que eu já vi"


"Ontem, assiti a um filme muito bom: "Café da Manhã em Plutão"


Foi confiando nas indicações de duas pessoas, as quais respeito muito, que fui ver "Breakfast on Pluto".


O diretor era de primeira (Neil Jordan - The Crying Game e Interview with the Vampire) e o ator principal também (Cillian Murphy - 28 days later, Red eye e Batman Begins).
Vou ser sincero: o filme é bom, a trilha sonora é sensacional e a atuação de Murphy é fantástica.
Conta a história da vida de um "crossdresser" nos tumultuados anos 70 na Irlanda e Inglaterra que parte em busca da mãe em Londres. Situações hilárias e tragédias dantescas são vividas pelo personagem na sua busca. Neil Jordan conseguiu dar vida a personagens muito interessantes e dirigiu magistralmete a atuação de Murphy. Talvez, seja esse o maior mérito do diretor.
O filme ainda termina com uma frase sensacional de O. Wild: "I love talking about nothing. It is the only thing I know anything about. "

So do I, Oscar. So do I.


Quatro estrelas

sábado, 7 de outubro de 2006

Visitante do dia...Parte XVIII


Presidente eleito do México, Felipe Calderón. Depois um processo eleitoral confuso e marcado por suspeitas de fraudes, Calderón obteve vitória no Tribunal Eleitoral mexicano. Pouco experiente na vida pública, Calderón governará o México de 2006 a 2012. Conservador, o novo Presidente terá que enfrentar a impaciência das classes populares e da esquerda do candidato derrotado López Obrador.

domingo, 1 de outubro de 2006

Letargia

- Pai, eu preciso saber o que você quer.
A comida do filho já havia chegado e ele ainda estava tomando a água com gás e limão. Nem gosta de água com gás, mas era a única coisa que ela tomava - fora a taça de vinho em ocasiões especiais - quando saiam para jantar. Beber aquela coisa amarga e sem graça não agradava ao seu paladar e fazia doer seu estômago. A gastrite o atacou novamente. Dessa vez pior: vomitou sangue por duas vezes na noite anterior, não conseguiu dormir. Nem com dois comprimidos de algum remédio tarja preta que encontrou no banheiro. Também não sentia fome, sede ou qualquer necessidade física. O vazio que sentia refletia-se no estado letárgico em que seu corpo colocara-se nas últimas quarenta e oito horas. Finalmente falou:
- Eu quero ela de volta.
-Tarde demais para isso.
O filho tinha razão. Ela estava morta. Câncer. Consumiu o corpo dela mais rápido do que ele pode dizer o quanto os quarenta anos juntos significou para ele. Sentia raiva por não ter tempo de deixar bem claro o que sentia. No início, achou que seria mais difícil e doloroso para ela dizer que acreditava que as séries de eventos que fizeram com que se conhecessem não foram coincidência, foram divinos; que todos os devaneios e descaminhos da vida dos dois eram trilhas feitas para que se encontrassem; que a amava com uma imensidão oceânica; que ainda lembrava da noite em que se conheceram por intermédio de uma amiga em comum e da primeira fez em que se tocaram quando a chamou para dançar naquela noite; que ainda lembra de que sentiu quando a beijou pela primeira vez e qual a música que tocava no show de jazz que foram juntos dois dias depois; que a levou para a estréia de “Ontem, hoje e amanhã”, de Vittorio de Sicca. A primeira vez que foram ao cinema. Teve medo de que ela dissesse que toda a aquela baboseira sentimental só estava sendo dita por que ela estava morrendo; que o que realmente importava era a família que criaram juntos e toda a cumplicidade enraizada nas décadas de convivência. Ela sempre foi racional e eu, emoção, pensava. Quis, também, dizer-lhe que se sentia um idiota por todas as vezes que brigou com ela; por todas as vezes que, movido por sua frágil capacidade de argumentar, feria-lhe os sentimentos. Mas aprendeu com ela a ser uma pessoa melhor. Ela ensinou-lhe a a ser mais sábio quando as coisas não iam tão bem no relacionamento. Era grato por tudo isso. Quando decidiu dizer a ela era tarde demais. Já não o escutava. Agora, tinha que conviver com a dor de nunca ter dito a ela tudo aquilo; conviver com o torpor causado pela dor de perdê-la.
- Precisas comer algo. Pai, por favor. - Pai! Gritou tão alto que assustou a senhora com cabelo engraçado e vestido vermelho da mesa ao lado. Havia momentos em que sua atividade psíquica estava reduzida a tal ponto que se sentia sentado em uma cadeira em um espaço branco, infinito, sem som, até mesmo naquele restaurante lotado. Não tinha consciência do que se passava em torno dele. - Vi um filme de David Fincher no qual o personagem principal, interpretado por aquele rapaz que fez "Seven" e "Doze Macacos", cujo nome agora não vou me lembrar, dizia: “Somos livres para fazer qualquer coisa quando perdemos tudo que temos”. Agora entendo realmente o que é perder tudo. Embora, agora, possa fazer tudo o que quiser, não tenho vontade de fazer muito. - Está falando besteira, pai. Sabia que não. Três dias depois, um derrame fatal atacou-lhe e pôs um fim ao seu sofrimento. A empregada, que o encontrou sentado na cadeira em frente à televisão na qual passava a reprise de “Ontem, hoje e amanhã”, teve a impressão de que o velho, morto, estava sorrindo.